sábado, 3 de abril de 2010

Filas de hipermercado 1

Com um sorriso monalisesco, chamativo pela cor da farda e pelo corpo vagamente transmontano contemplava na boa o mulherio que se perfilava diante da sua caixa registadora, alheio ao stress, que a vida é para levar nas calmas…don’t worry …be happy.

Eu, para variar, já tinha feito das minhas. Despassarada das ideias já tinha metido o puré no carrinho doutra atarefada dona de casa. Não satisfeita com a façanha, atirara-me aos perfumes, pulverizando ambos os pulsos, mãos e cotovelos, até não saber se carburava a adrenalina ou a água de colónia. Já que não posso comer amêndoas vingava-me noutras fragrâncias! E vai daí, lá vou eu directa ao primeiro cavalheiro dar-lhe o braço a cheirar:- Então, que achas deste?! Pois o moço era ucraniano, não percebeu nada e ainda bem, porque quando vi aquela altitude e aqueles ademanes percebi logo que não era o meu legítimo! Haja paciência para me aturar mais um cão para a guardar!...

Voltando à fila que se desenrolava calminha….duas mocinhas loiras amadeixadas tinham por perto um terrorzinho chamado Gonçalo que não parava quieto. Como se não bastasse serem loiras e magrinhas…ainda tinham de ter um hiperactivo para o quadro ser mais perfeito e mais chamativo! E o rapaz da caixa distribuía sorrisos compassivos e muiiiiito mal intencionados, completamente vidrado nas catraias, enquanto a fila alooooooooooonnngavaaaaaaa.

Ora eu estava na boa à espera que parasse de chover, com o carrinho cheio de compras e a ruminar impropérios contra as festas.

As blondies lá passaram as compras, enquanto o Gonçalinho derrubava o cartaz da propaganda e ai desta é que tu levas, Gonçalo, páras quieto? Páras? Não parou.

Desalinhada e desalinhavada uma trintona de fato de treino e ondulação duvidosa deixava cair as olheiras e a pachorra. Nunca mais era a vez de ser brindada pelo sorriso do transmontano da caixa. Finalmente, chegou o seu momento. E não é que o moço sorriu para ela e começou a passar os produtos na passadeira…Pois.

E foi assim que o sorriso desbotou, deslavou.

Azar da trintona em ter posto os pensos higiénicos e os tampões logo no início das compras.

Se assim não fosse talvez tivesse a sorte de um cross em boa companhia.

A honestidade não compensa.

1 comentário:

Sargento Pimenta disse...

pois não... basta olhar para a nossa sociedade de bens sucedidos na vida